sábado, 22 de outubro de 2016

Provisório

Porque não precisas de mim,
preciso de ti. Porque não
sou perfeito, és perfeita.

Algumas vezes ficamos
insensíveis
e só nos restam os olhos,
universos em órbita
que abarcam os sentidos:
de onde te vejo,
ninguém mais vê.

Porque te sentes mal,
sou teu
amigo mais dedicado.
Posso chorar por ti;
no lugar dos teus olhos,
os meus
para que não sofras.

Posso ser tu para que não sejas
eu.
Porque não és perfeita,
sou perfeito. Não sou
quem procuras, mas me achaste.
Posso agora correr
nu no temporal.

Porque sou fraco, és forte. Não és
minha amiga, eu sei,
não como são os amigos,
mas trocamos segredos...

Alguns animais trocam de pele,
mas não trocam de olhos
(a não ser o ser humano).
Por isso sou um pássaro,
para ver teus olhos, mesmo de longe,
voando sobre as nuvens
quando o temporal vier.

Porque o tempo,
este algoz
invisível,
alimenta-se dos desejos
e dos sonhos.

Precisas de mim, porque sou teu
desejo, um mistério sem respostas.
Eu deveria contar tudo
e ficar nu. Então eu seria também
invisível
tal qual taça de cristal quebrada,
vazio.

Porque precisas de mim,
não preciso de ti. Sendo forte,
és fraca. Humanamente linda
em tua fraqueza.

Duas joias de desejo
em teu rosto dizem coisas
que não ouso
traduzir.

Fiz um colar ornado com os meus desejos
para que guardes
em teu pescoço e o sintas pulsar em tua pele,
 assim como o coração
em teu peito.

Não te sintas mal. Estes versos não são perfeitos,
mas são teus,
mesmo que eu saiba
que não precisas deles.



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