quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Iridaceae

Dei flores a ela,
imaginárias ou não,
vermelhas ou azuis.
Ela sorriu,
olhos de insetos,

espúrios, de bizarros besouros
no bolor turvo da íris. Ciciar de cílios
tamborilando o silêncio. 

Saudades,
palavra moribunda, subverte, contrai,
exala, apodrece, morre.
Renasce não como palavra. Queima,
extermina o sentido. Ventrículo sinistro,
ventrículo destro. Em vão bombeia o tempo
coagulado, 
verde, azul ou vermelho.

Dei flores a ela,
tão reais, tão reais...
eram violetas vivas ou lírios,
eram verdes, eram musgos selvagens,
eram cor de folhas secas;
eram os olhos abertos de um animal,
eram o sol no solstício de inverno.
Ela sorriu.
Ela chorou.

Memória.
Fatia o tempo,
risca o sonho,
corta a noite e o azul.
Tece a carne e a consome.
Dorme.
Um rio que seca,
um rio que nasce.
A chuva que desce.
Noite infinda.

Não dei nada a ela:
olhos fechados, as mãos espalmadas
no verde, branco ou vermelho.
Ela me deu seu anel
enferrujado
pelo silêncio e resignação.
Bebeu uma taça de vinho
ou mar. Bebeu outros toques
defumados em ervas. Enterrou um cadáver
na cova rasa da praia, rumou 
para as montanhas. Escondeu os olhos 
e o vermelho, arremessou a lágrima
na profusão dos dias, enfrentou a noite, 
acordou a morte.

Espessos  olhos
e mãos que seguram o caixão.
De rua em rua,
de terra em terra, vagaram
atentos, fecharam-se feito covas
ou flores
em copo de água salobra,
feito bocas postas
de espanto e horror.













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