Caem as máscaras,
cai o pano. Espetáculo
de sombras, letargia.
Atrás dos olhos, duas órbitas
vazias.
No espelho, imagens
adestradas, repetem
a doentia farsa.
Náuseas.
Desce o pano,
cerram-se as pálpebras.
Permanecem imóveis,
paralisadas. Palavras expelidas
derramam-se na noite.
Risos
e aplausos
descem a cova.
Silêncio
e mais nada.
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
Iridaceae
Dei flores a ela,
imaginárias ou não,
vermelhas ou azuis.
Ela sorriu,
olhos de insetos,
espúrios, de bizarros besouros
no bolor turvo da íris. Ciciar de cílios
tamborilando o silêncio.
Saudades,
palavra moribunda, subverte, contrai,
exala, apodrece, morre.
Renasce não como palavra. Queima,
extermina o sentido. Ventrículo sinistro,
ventrículo destro. Em vão bombeia o tempo
coagulado,
verde, azul ou vermelho.
Dei flores a ela,
tão reais, tão reais...
eram violetas vivas ou lírios,
eram verdes, eram musgos selvagens,
eram cor de folhas secas;
eram os olhos abertos de um animal,
eram o sol no solstício de inverno.
Ela sorriu.
Ela chorou.
Memória.
Fatia o tempo,
risca o sonho,
corta a noite e o azul.
Tece a carne e a consome.
Dorme.
Um rio que seca,
um rio que nasce.
A chuva que desce.
Noite infinda.
Não dei nada a ela:
olhos fechados, as mãos espalmadas
no verde, branco ou vermelho.
Ela me deu seu anel
enferrujado
pelo silêncio e resignação.
Bebeu uma taça de vinho
ou mar. Bebeu outros toques
defumados em ervas. Enterrou um cadáver
na cova rasa da praia, rumou
para as montanhas. Escondeu os olhos
e o vermelho, arremessou a lágrima
na profusão dos dias, enfrentou a noite,
acordou a morte.
Espessos olhos
e mãos que seguram o caixão.
De rua em rua,
de terra em terra, vagaram
atentos, fecharam-se feito covas
ou flores
em copo de água salobra,
feito bocas postas
de espanto e horror.
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Fuga
Precisei da concha
áspera dos caramujos,
de mais pontos
para traçar a linha.
Encontrei o muro, desviei
do soco. Caí
como chuva
das nuvens. Subi a montanha
mais alta. Repeti a mim mesmo.
A mim mesmo.
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
Nuvens
As nuvens lembram-me
que a verdade é matéria volátil.
Tudo caminha tão lentamente,
tão insipidamente,
que pouco a pouco dissolvo-me
à velocidade da luz
que a verdade é matéria volátil.
Tudo caminha tão lentamente,
tão insipidamente,
que pouco a pouco dissolvo-me
à velocidade da luz
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
Asas Noturnas
Nuvens plúmbeas prenunciam a chuva
nos lúgubres umbrais dos meus pensamentos.
A morte crocita com seu bico curvilíneo
as trevas áridas dentro do meu crânio.
Um relâmpago clareia minha cabeleira
castanha e branca.
Não há ninguém à porta.
Entreabro as pálpebras em ruflares de cílios flácidos
e entrego o turvo sono a trepidar
junto aos galhos secos das frondosas árvores
lá fora.
nos lúgubres umbrais dos meus pensamentos.
A morte crocita com seu bico curvilíneo
as trevas áridas dentro do meu crânio.
Um relâmpago clareia minha cabeleira
castanha e branca.
Não há ninguém à porta.
Entreabro as pálpebras em ruflares de cílios flácidos
e entrego o turvo sono a trepidar
junto aos galhos secos das frondosas árvores
lá fora.
Noite
A cortina entreaberta brilha
na contraluz. As vozes misturam -se
aos movimentos do dia que chegou ao fim.
Lá fora não há tempo, só aqui dentro,
onde o murmurejar do relógio segreda o silêncio.
Vejo a lua, um olho vigilante
e cego. Carrega a minha alma,
a minha dor no branco luto.
O vento ensaia um sopro
e balança a solidão.
Esta noite o sonho não vem.
na contraluz. As vozes misturam -se
aos movimentos do dia que chegou ao fim.
Lá fora não há tempo, só aqui dentro,
onde o murmurejar do relógio segreda o silêncio.
Vejo a lua, um olho vigilante
e cego. Carrega a minha alma,
a minha dor no branco luto.
O vento ensaia um sopro
e balança a solidão.
Esta noite o sonho não vem.
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