Se corressem invertidos,
os rios, por infinitos
bosques... Se vertessem
sangue
naquela paisagem
morta na janela, estaríamos
vivos. Correríamos.
Patas caninas
e pelagem negra no dorso.
À vida bastarda
seríamos gratos. Sem
donos. Brancos
olhares tingidos de azul. Sem
raça. Somente
a corrida.
sexta-feira, 5 de abril de 2013
quarta-feira, 3 de abril de 2013
A Tempestade
No início, estava o tempo ao encalço do tempo. Temporais
soltaram raios depois, quando uma brisa já havia chegado, desde antes, quando a
memória deixara os confetes parados no ar, na despedida, estáticos como o
sorriso invernado nos lábios dela.
Aniversário. Quantos já se passaram? E os confetes
gelados formigavam meus pensamentos. Essas coisas invisíveis é que
iniciaram as tempestades que sobrevieram logo depois. Mas havia algo naquela
imagem regelada, movendo-se a cada ano, algo de oculto, incompreendido.
Todos os ventos saíam de sua boca. “Qual é o seu nome?”
O vento era estrondoso. Por vezes, chovia entre os guarda-chuvas abertos. O meu era o único lacrado. Eu entrava, então, nas tempestades e fazia vibrar a
enxurrada com o meu grito. Em ocasiões, dizia coisas incompreensíveis que eram
abafadas pelos trovões, e os raios faziam vazar os meus pensamentos, menos a
lembrança dela, quase estática, com aquele sorriso suspendendo confetes.
Desde então, sempre que os vendavais balançam as cortinas,
eu fecho as janelas do quarto e tento organizar os arquivos de jornais achados
nos temporais, coisas que voavam com o vento, coisas que costumava pendurar nos
varais; e os escritos secavam no solzinho da manhã. E havia muita fotografia,
pessoas desconhecidas e também grandes personalidades, arquitetura, letras e
letras. Minhas coisas.
Preciso daquilo. Há cerca de um mês eu não sonho mais, a
não ser quando os vendavais, as tempestades, os furacões desordenam as minhas
coisas, quando eu grito correndo pela chuva, e o rosto dela parece se mexer
entre as gotas nos meus olhos. Todos os ventos bradam, e eu rodopio e danço
encharcado, com os cabelos desgrenhados. Em meus sonhos as palavras brotam, e eu
vejo as letras pingarem como os confetes. Meus sonhos. Neles só há ventos.
Um dia desses, de chuva na vidraça, eu corri e gritei
o nome dela. Sua boca tornou-se um imenso furacão de inverno. Meu corpo lançado
a todo o vento, girando e se retorcendo. De repente, pareceu ficar imóvel,
suspenso no centro do redemoinho. Coisas girando, gritos e choro, placas de
paredes e telhados se movendo; e eu suspenso no olho do furacão. Havia
palavras, letras e letras no caos e chuva. “Qual é o
meu nome?” tentei lembrar, mas o vento varreu meus pensamentos. “Lembra, lembra
corpo vazio, ossos, mãos no carpete correm, o corpo na chuva e o nome, de água meus
olhos, olho, olho os lábios, dela rugiam, rugiam e ventavam.” Acordei sobre os
destroços, longe, no meu aniversário. Não sei mais quem sou. Quando olho
no espelho, esse outro sonho, as palavras se mexem do outro lado, vazias de
vento.
quarta-feira, 27 de março de 2013
Regurgitando
Não necessito de música,
só do branco
vazio do luto.
Abri os olhos turvos
e nada havia,
nada.
Crocitei tinta
das abissais
e à matriz voltei.
Rufei dos versos
penas bastardas,
falácias secas,
quimeras.
Pouco importa se
esganei,
se um hediondo esgar
de bico
soou breve
e comum.
Asas abertas
molhadas de um
negro visco
riscando o voo.
Visão moribunda
de agouro mau:
morto corpo
branco.
E mais
nada.
só do branco
vazio do luto.
Abri os olhos turvos
e nada havia,
nada.
Crocitei tinta
das abissais
e à matriz voltei.
Rufei dos versos
penas bastardas,
falácias secas,
quimeras.
Pouco importa se
esganei,
se um hediondo esgar
de bico
soou breve
e comum.
Asas abertas
molhadas de um
negro visco
riscando o voo.
Visão moribunda
de agouro mau:
morto corpo
branco.
E mais
nada.
quinta-feira, 14 de março de 2013
O Poeta
Primeiro abriu os olhos.
Só depois dormiu.
Andou em florestas densas,
foi atingido no peito.
Tantas guerras, tantas mortes,
não sobreviveu.
Chutou o balde. Debalde, morreu de novo na sexta-feira, embaixo do viaduto da Andradas, às 3 da madrugada.
Levantou-se,
empunhou a Lira,
declarou independência:
entortou manhãs em rios.
Do vento a terra lançada,
fogo consumindo o ar.
Depois fechou os olhos,
duas conchas no mar.
Só depois dormiu.
Andou em florestas densas,
foi atingido no peito.
Tantas guerras, tantas mortes,
não sobreviveu.
Chutou o balde. Debalde, morreu de novo na sexta-feira, embaixo do viaduto da Andradas, às 3 da madrugada.
Levantou-se,
empunhou a Lira,
declarou independência:
entortou manhãs em rios.
Do vento a terra lançada,
fogo consumindo o ar.
Depois fechou os olhos,
duas conchas no mar.
terça-feira, 12 de março de 2013
Revolvendo Sonhos
O que eu vi antes de ser
está morrendo
pouco a pouco
já era tempo
dos dias de aurora
da revoada branda sobre os campanários
do lento desfecho do golpe
a carruagem em desespero
e o galope bravio do grito
Mas o que existia não era
o que eu via
partiu-se
como aço maleável
em mãos
demiúrgas
como folhas em
branco de palavras
vazias
está morrendo
pouco a pouco
já era tempo
dos dias de aurora
da revoada branda sobre os campanários
do lento desfecho do golpe
a carruagem em desespero
e o galope bravio do grito
Mas o que existia não era
o que eu via
partiu-se
como aço maleável
em mãos
demiúrgas
como folhas em
branco de palavras
vazias
segunda-feira, 11 de março de 2013
Se o Tempo
Se o tempo fosse amigo
o outono seria inverno
as palavras brotariam secas
do cítrico frio
e nasceriam
Se o tempo fosse irmão
o vento desceria incauto
outro verbo cantaria
de dentro do peito
são
Se o tempo fosse criança
o alcance do choro
dança
bilboquê que lança
bem longe
a velhice mansa
Mas o tempo, inimigo velho
inquire fundo ao fosso
se o desejo amargo
um dia será doce
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