segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Arqueologia

À beira do rio moram estranhos
lavam vasilhas
roupas
e tem feridas nos olhos

Dentro do rio os mortos se movem
comem lodo
óleo
e jogam dama

O rio é turvo, velho, cheio de dentes
sem peixes
sem voz

À margem
o tilintar da louça rachada
olhos malcheirosos
órbita ignóbil

Ninguém sabe se o rio corre
ou se está parado
morto
perna quebrada

O tempo é medido por sol
estrelas
e olhos dos mortos

De um lado ao outro
ninguém jamais ousou
somente à margem
era um lado só

Mas do outro lado estranhos
comem
dormem
e leem jornais

(Luciano Vivacqua)
















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