Penso em letras de música como possíveis poemas. Possíveis, porque nem sempre o são. Os poemas podem existir sem a música, as músicas sem as letras e uma letra de música pode não utilizar a linguagem poética, função poética, ou linguagem conotativa. O que acontece, na maioria das letras de música, é a variação que, ora é denotativa, ora é conotativa em uma única letra. Entretanto, os chavões, mesmo na linguagem conotativa, podem ser encarados como denotativos, tamanho o uso, o que faz a letra cair em uma linguagem corriqueira. Então, o que é letra de música, e o que é poesia? Eis a questão. Tem excelentes letras de músicas que não são poesia, mas que emocionam. E excelentes poemas musicados que causam estranhamentos. O fato é que as melodias, ou seja, a música, a harmonia e etc., potencializam as letras ou os poemas. É só ouvir The Doors ou Bob Dylan para se ter uma boa ideia de alguns poemas que viraram músicas. Além disso, existe o gosto. E como dizem por aí, há gosto pra tudo. Bom, não estou fazendo aqui uma apologia à poesia, mesmo porque música e poesia são linguagens distintas. Mas a letra de música tem que ter um algo a mais. A letra da música chama a minha atenção, talvez, tanto ou mais quanto o arranjo, o estilo, a voz do (a) cantor (a)...
Sem mais delongas, escrevi essa letra de música e compus no violão um estilo folk, quase country ( segue abaixo o link do vídeo no youtube, que foi gravado com uma câmera bem simples). Eu poderia falar um pouco sobre a mensagem da letra, mas prefiro deixar a cargo do leitor / ouvinte.
https://www.youtube.com/watch?v=0KDCUWFrEZchttps://www.youtube.com/watch?v=0KDCUWFrEZc
Senadores também vão ao cinema
Oh, o céu é uma nuvem de chuva
E as casas já estão desertas.
As ruas rachadas, o tempo parado, teus filhos brincam de
roda
O secreto das coisas se mostra num furacão
Um cadáver jaz no asfalto
Seu corpo é óleo e sangue
Os carros não param, homens praguejam, seus filhos vão pra
escola
Os mortos sem rostos são vozes na nossa nação
E um grito se ergue na
noite, estátuas antigas se movem
Ouve-se um blues nas montanhas, o golpe da foice
E um grito se ergue na noite, estátuas antigas se movem
Ouve-se um blues nas montanhas, o golpe da foice
As paredes são feitas de musgo
O medo é roda gigante
O sol não se põe, os rios não correm, bebês já ficaram velhos
O voto do povo é bilhete em sessão de cinema
Oh, o céu é relâmpago e vento
Os pássaros já foram embora
Os bancos vazios, as lojas faliram; sem luz, as cidades paradas
Voa no vento o dinheiro e acende fogueiras
E um grito se ergue na
noite, estátuas antigas se movem
Ouve-se um blues nas montanhas, o golpe da foice
Lembranças das ondas do
mar rugindo histórias sem fim
De linho o céu e estrelas
Seu
brilho em mim
