Corria o tempo à casa antiga
lento e denso,
viscosa tinta
descendo
paredes,
derretendo móveis,
levando as almas.
lavando a relva.
Mas nada havia,
tu lá não estavas
(talvez em outras Eras)
o temporal ao longe dorme.
Sonhaste minha vida e não me deste
fôlego: nas narinas
Nereides sonham
outra vida
outra noite.
Tive a chance de ser
outra vez
quem eu fui:
inimigo,
amante,
teu pai,
teu irmão...
esperando pela tempestade
nesta casa vazia.
Ao longe a hipotética chuva
precipita
o amor
antigo
e
novo,
gota em
gota
em
pingos
turvos de
rubro em
rubro
(um trovão atravessa o teto)
As palavras
quebradas,
feriram
qual cacos de espelhos rotos: um sonho
é só
mais um sonho dentro daquela nuvem,
dobrando seu dorso negro
de sombras frias.
Toquei a chuva em minha mente.
Memórias
alagaram teus olhos
e mãos, escorreram azuis pelos dedos,
entraram pelas casas, cidades
de pensamentos vãos.
A tinta nos teus olhos misturou-se
àquela poça
que não mais
existe.