Se um dia vieres aqui,
enxuga tuas lágrimas,
porque olhos não se vendem,
poemas não se compram.
Tudo já passou,
de novo e de novo,
sem espanto.
Arqueologia de mim mesmo.
Se um dia vieres aqui,
enxuga tuas lágrimas,
porque olhos não se vendem,
poemas não se compram.
Tudo já passou,
de novo e de novo,
sem espanto.
A cidade assovia o etéreo lamento
E talha o vento e as cortinas dos prédios.
A cidade não sabe de si nem de ti.
É um formigueiro crescente de sombras. Simulacro de Ordem e desordem.
Pulsa para dentro do tempo e rumina.
Se o que sinto é poema,
poema não há,
somente um grito,
chama efêmera, bêbada,
bruxuleando recomposta
de memórias.
Carrego outro corpo
entre etéreos becos vazios,
absorto, entre portos,
perdido em silêncios
de espanto.
De chumbo o olhar.
Concreto eco me açoita.
De resto o relento
e um sentimento fora
do mundo.
Em minhas veias
secou a tinta escura
dos versos. Tudo é
seco. Deserto
gasto de palavras
velhas. Em procissão
elas seguem, alheias
ao visco, ao sopro fresco
das bocas, seguem
monótonos ecos
e cacos breves de rezas
em sombras opacas. Deuses
falsos tingidos em sépias
de pedra.