quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Retorno

 Se um dia vieres aqui,

enxuga tuas lágrimas,

porque olhos não se vendem,

poemas não se compram.

Tudo já passou,

de novo e de novo,

sem espanto.

Boi do fim do dia.

 A cidade assovia o etéreo lamento

E talha o vento e as cortinas dos prédios.

A cidade não sabe de si nem de ti.

É um formigueiro crescente de sombras. Simulacro de Ordem e desordem.

Pulsa para dentro do tempo e rumina.




terça-feira, 9 de maio de 2023

Sentimento

 Se o que sinto é poema,

poema não há, 

somente um grito,

chama efêmera, bêbada, 

bruxuleando recomposta

de memórias.



quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Dark Lira

A palma arenosa
E os dedos velozes
Vibraram as cordas 
Venosas da lira. 

Eu li os sinais
inscritos nas mãos.
Não eram segredo
 degredo distinto:
Versos vorazes
Em lágrimas postas
Na fronte do amor.

Não era lamento
Da Lira tardia
Que fia o verso
Em fio adverso.

Não era angústia
Augusta quimera
A voar à janela,
Não. Não era.

Por que minha dor
Em lentos compassos
No corpo desperto
Do sono da morte
Não causa terror?

Oh, lira, desmente
Que o som à janela
É um pássaro espúrio,
Crocita demente 
O fim da canção...

Só posso dizer
Que as asas abertas 
Do pássaro preto
Ecoam no vento
Em arestas de penas
Pouco a pouco,
pura ilusão.

Será má sorte?
Atreve-se a morte?
Em silêncio e trevas,
Me serve por hora
Que ela melhore,
que  não padeça
Minha pobre Lenore. 












terça-feira, 29 de novembro de 2022

Fora de Mim

Carrego outro corpo

entre etéreos becos vazios,

absorto, entre portos,

perdido em silêncios 

de espanto.


De chumbo o olhar.

Concreto  eco me açoita.

De resto o relento

e um sentimento fora 

do mundo.










quarta-feira, 12 de julho de 2017

Desilusão

Em minhas veias
secou a tinta escura
dos versos. Tudo é
seco. Deserto
gasto de palavras
velhas. Em procissão
elas seguem, alheias
ao visco, ao sopro fresco
das bocas, seguem
monótonos ecos
e cacos breves de rezas
em sombras opacas. Deuses
falsos tingidos em sépias
de pedra.

sábado, 24 de junho de 2017

Reflexão

As salas inertes e suas luzes
pálidas derramam-se sobre as pálpebras
fechadas. Janelas emolduram a penumbra externa
e as estrelas imaginárias. A paisagem
fenece. Pela raiz
o esquecimento é cortado  e plantado
em solo débil. Tudo
marcha ao vazio. É hora
de levantar lápides, contar
os mortos e feridos.